Estique suas pernas... e sua vida

Passar tempo demais sentado ameaça a saúde até de quem faz exercícios. Saiba por que a ciência está redefinindo o conceito de sedentarismo e como isso vai influenciar sua rotina

Vários especialistas tentam elucidar o elo entre tempo demais na cadeira e um maior risco de morte. Alguns apontam o dedo para a lipoproteína lipase (LPL), enzima que participa da remoção de triglicérides dos vasos. "A LPL depende da contração de grandes grupos musculares para funcionar direito, ensina Grégore Mielke, educador físico da Ufpel.

Isso não ocorre quando permanecemos sentados. Estudos sugerem que duas horas nessa posição diminuem em 70% a atividade dessas enzimas", diz. Já a postura bípede demanda que pernas e abdômen trabalhem para sustentar o corpo - aí, a LPL aceleraria seu ritmo, varrendo a gordura dos vasos.

Outros estudiosos creem que a molécula a ser responsabilizada é a glicose. “O comportamento sedentário afeta seu aproveitamento", resume I-Min Lee, epidemiologista da Universidade Harvard, nos Estados Unidos. Em outras palavras, sua concentração no sangue sobe, o que fomenta o diabete e danos nas artérias.

Em meio a especulações, o fato é que se manter levantado torra mais calorias do que usar as nádegas de apoio. "O gasto energético dobra ao trocar a segunda posição pela primeira", calcula Reis. Pode parecer exagero, mas, ao longo do tempo, pequenos e constantes acréscimos no gasto calórico dificultam o aparecimento da obesidade e de doenças crônicas.

Agora, sabe o que é pior do que passar horas sentado? Segundo uma revisão da Escola Norueguesa de Ciências do Esporte, é passar horas sentado assistindo a TV. Para entender, o epidemiologista Ulf Ekelund se debruçou sobre o comportamento dos voluntários em frente à tela. “Petiscar e tomar bebidas industrializadas são práticas habituais enquanto se vê televisão e que obviamente não fazem bem”, alerta.

DIA A DIA MAIS DINÂMICOEstique suas pernas... e sua vida - Ilustração 1

"Percebemos que a taxa de mortalidade aumenta em quem supera a faixa de quatro horas por dia sentado. Mas ela cresce especialmente nos que excedem o limite de oito horas", aponta Stamatakis. Agora, de acordo com Hallal, mais importante do que se fixar nesses números - ainda sob julgamento da ciência - é olhar para a própria rotina e, a partir daí, reduzir ao máximo o comportamento sedentário.

Os profissionais também recomendam quebrar longos períodos em cima da cadeira com curtos momentos de movimentação. "Essas interrupções estão associadas a menores níveis de triglicérides e circunferência abdominal reduzida", observa Mielke. Sim, ir tomar um copo de água ou só esticar as pernas já oferece vantagens.

Controlar o tempo sentado não isenta ninguém de fazer exercícios físicos - aquela recomendação de ao menos 150 minutos de práticas moderadas por semana continua valendo. “Elas promovem adaptações positivas no organismo que o simples ato de se erguer do assento não trará", avisa Paulo Camiz, geriatra do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Estique suas pernas... e sua vida - Ilustração 2Além disso, indivíduos que incluem tais atividades na agenda tendem a ficar um menor número de horas encostados no sofá. É até óbvio: em vez de ligar a televisão, você estará correndo, pedalando, jogando bola... "Há ainda uma maior predisposição nas pessoas fisicamente ativas a se alimentar adequadamente, dormir bem e largar o tabagismo", completa Hallal. "Em suma um hábito positivo favorece a adoção de outro", comenta o cardiologista Nabil Ghorayeb, presidente do Departamento de Ergometria, Exercício e Reabilitação Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia. E o primeiro deles, olha que fácil, pode ser se levantar da cadeira.

TEMPO DEMAIS EM PÉ TAMBÉM FAZ MAL

"Extensos períodos nessa posição provocam um inchaço nas pernas bastante incômodo", alerta o ortopedista Moisés Cohen, diretor do Instituto Cohen de Ortopedia, Reabilitação e Medicina do Esporte. "A atitude também incorre em dores no pé e na coluna", acrescenta. Quando sentir os membros inferiores cansados, claro que vale a pena se sentar - ou até caminhar um pouco.

Fonte: Revista: Saúde é Vital (maio 2014)
Imagem: google/imagens